domingo, 29 de maio de 2011

Usar máscara ou não ... eis a questão!



Actualmente, a palavra prostituição tem um sentido tão lato e subjectivo que, qualquer adjectivo que se utilize para qualificar o conceito, levar-nos-ia a debates inconsequentes.
Toda a gente se prostitui, no sentido mais pejorativo que essa palavra pode suscitar, em qualquer tipo de relação ... afectiva, social, familiar, profissional e política, onde a transacção da mentira, manipula tudo e todos de forma descarada.
O sexo, é quanto a mim, a mais transparente das prostituições ... transacciona-se o corpo, e em troca, é-se remunerado. Muito mais chocante será alguém despertar emoções e afectos noutras pessoas pelo simples divertimento ou para enriquecimento curricular. A mulher ou o homem, ao prostituir-se, poderá, simultaneamente, desempenhar vários papéis: fotógrafos de ilusões, mágicos de emoções pré fabricadas, ventríloquos de frases feitas, vendedores de sonhos ... mas o jogo é bem definido pelos intervenientes, ninguém engana ninguém!

Há uns tempos atrás, assisti a um debate onde alguém disse que a angústia que sentiria em relação à filha, seria a mesma, fosse ela prostituta ou alpinista.
Vem isto a propósito da Joana fazer a apresentação do seu livro, usando uma máscara veneziana, não porque a sua vida seja um misto de Natal e Carnaval mas porque a nossa sociedade se mantém vinculada a estereótipos que mais não são do que “clichés” que se diluem entre o “dizer” e o “fazer”.
Não consigo estabelecer comparações entre filhas alpinistas ou prostitutas mas uma coisa, eu sei ... se tivesse uma filha como a Joana, sentiria um grande orgulho, independentemente do seu passado, presente ou futuro.
E em relação ao que ela me confidenciou, recordo-me da mensagem que o meu filho me enviou no meu aniversário: “o coração das mães é um abismo no fundo do qual se encontra sempre um perdão

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Noite de Poemas by Kikas (Repórter Estrábica)



Eram 19:30 e um trânsito caótico na capital do Império. O motorista ligou-me, muito preocupado, porque estava engarrafado, algures entre o Rato e a Gare Oriente. Entretanto, o JF chegou empolgadíssimo porque vai participar no campeonato mundial de Frisbee e então aproveitamos para discutir tácticas de defesa e ataque que são comuns a qualquer desporto com ou sem bola. Em seguida fomos apanhar a Libelita a Santa Apolónia ... esta mulher é unica e com um manancial de histórias divertidíssimas para contar.
Novidade em primeiríssima mão, a Tita tem uma gravidez psicológica, diagnosticada pela ginecologista ... perdão, pela vet, isso quer dizer que, psicologicamente falando, ela vai ser avó, lololol.
Depois, ficamos a saber que a Libelita descobiu uma nova griffe de “alta sapataria” que se chama “Osga Shoes”. Pois é, enquanto se preparava para o evento, descobriu que dentro do sapato, tinha uma estranha sensação de fofura, o que não a impediu de se maquilhar e vestir com uma simpática osga dentro do sapato. Após verificar que, ortopedicamente, o bichinho estava em perfeito estado de conservação e de ter dado uma beijoca à Tita, lá veio ter connosco, feliz e contente porque o zoo ficava muito bem entregue em ... auto gestão.

Em seguida fomos apanhar a Joana e enquanto esperávamos pela caracterização, a Libelita deu-nos uma lição de “cuisine gourmet” digna duma parceria Isabel do Carmo/Filipa Vácondeus (ou pra outro sítio qualquer). Aproveitei para dar umas dentadas num chausson de maça que tinha na mala (porque nem sequer tive tempo de jantar) e levei logo uma reprimenda de não sei quantas kilo calorias que até me ia engasgando.
Finalmente chegou a Joana, absolutamente deslumbrante, um misto de Madame Pompadour e Cinderela ... um trabalho de maquilhagem artística absolutamente fantástico (a Maria João transforma pessoas em arte viva).
Mais umas voltinhas e chegámos finalmente à Biblioteca. Beijinhos e abraços, ao Paulo, Carlos, Orca e Paulinha Raposo. Finalmente, ei-la que chega a Poesia, às vezes poderosa, interventiva, solidária, outra vezes, subtil, erótica, amante mas sempre sequiosa de quem a leie e divulgue.

Chegou o momento dos autógrafos ... muito brilho, luz e emoções. A Joana escreveu-me uma dedicatória linda e diz que sente um grande orgulho em conhecer uma mulher como eu. Pois eu tive o privilégio de conhecer uma grande escritora mas muito mais importante que isso, conheci uma grande MULHER. Parabéns Joana, que este seja o início de um ciclo em que as palavras soltas combatam as mentalidades banais e (i)morais.
Finalmente, tivemos cantigas e sinceramente ... a TunaMeliches ajavardou completamente uma noite em que era suposto dedicarmo-nos exclusivamente à cultura. E o miúdo, coitado, corou até às orelhas e até encravou o powerpoint no toshiba! Num havia nexexidade ... a Sãozinha estava caladinha ao canto da sala, completamente inibida, acho que ninguém deu por ela, nem tugiu nem mugiu, hahahahaha!
Uma coisa é certa, embora beneficiados pela excelente acústica da sala, o Paulo, o Carlos e o Orca deram show, abençoadas vozinhas e manitas ... violaram até ficarem com os deditos dormentes, caragu!!!!!!!!
Adorei, adorei, adorei e estou desejando conhecer o resto da Tuna. Até Julho e façam favor de levar o Ricardo Esteves. Ele diz que tem de tirar os dentes do siso ... tretas, quem lhe arranca os dentes sou eu se ele faltar ao Encontrão.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Pink Freud, please!


- Doutor Segismundo, o meu namorado é professor universitário e gosta muito de fazer citações filosóficas enquanto fazemos sexo
- Concordo que essa situação é desconfortável porque pode ser incompatível manter simultaneamente a actividade intelectual e a actividade hormonal (em linguagem mais abrangente, a menina fica com os neurónios fodidos, certo?).
- Nem mais, ainda ontem, estava eu prestes a …, diz-me ele ao ouvido: "As novas gerações estão dentro dos colhões e o novo Portugal, nasce dum tomatal".
- Deduzo que seja uma citação dum filósofo contemporâneo…
- Ele desculpou-se, dizendo que é uma corrente filosófica pós-socrática mas já na semana passada, fazia citações de enrabadelas legislativas e minetes eleitorais. Arranjo outro namorado ou aguardo pelo fim da campanha eleitoral?
- É sabido que todos os professores universitários fazem citações durante o sexo. Porém, pelo seu relato, adivinho que esteja perante um caso terminal, o próximo estádio trará uma impotência insofismável!
- Conheci um trolha, que me anda a assentar um soalho flutuante, lá em casa ...
- O trolha não me parece boa ideia. Por norma, é o tipo de homem que mais não conhece que a “Alegria da Caverna”. Só querem sexo, sexo, sexo, de preferência em cima do andaime, e quando a mulher dá por si está dentro de um contentor a protagonizar "A Divisão do Trabalho Sexual" (do Emílio Murcheim) com o grupo da comissão obreira local — haja betoneira que aguente! De mais a mais, não são pessoas que gostem de cimentar relações e, julgo eu, a menina quer mudar para algo sério.
- O que me apetece, sei eu ... apetece-me ser bárbara e mandá-lo já a Guimarães (que é abaixo de Braga).
- Isso seria uma opção terminal. Pode ainda tentar o seguinte: comece a recitar a tabuada toda, combatendo as estiradas filosóficas com o estigma da apócope dos números. Ou então espanque-o severamente com "O Capital" do Marx durante o acto. Ou exija ter relações apenas durante o concurso "O Preço Certo".Ou declame-lhe poesia do Ruy Belo... não lhe faltam opções, minha querida, para alterar o seu desconforto.
- Concordo Doutor mas, em todo o caso, vou também consultar a "Caras", onde há sempre tantos e tão úteis conselhos para mulheres insatisfeitas com as políticas sectoriais do pirilau.
- Minha querida, há também outra alternativa que seria manter ambos. A sua vida sexual percorre uma grande distância entre estes dois modelos antípodas, ou, no caso em questão, antíphodas... de facto, para uma mulher, ele há alturas em que apetece jantar romântico, bem amesendado com cabernet sauvignon regado por laivos de grandiloquência; mas há outras, para ser agarrada pelos cabelos, cingida sobre o capot de um velho automóvel estacionado junto ao estaleiro da obra e possuída dessa forma frugal e singela, mas muito revigorante.
In extremis, mantenha os dois e vá à procura de mais...

sábado, 14 de maio de 2011

Amistad


Se a juventude nos faz viver as coisas de um modo leve e descomprometido, à medida que a idade avança, a maturidade permite-nos olhar para a vida sob outro prisma, clarificar aquilo que queremos ou, quanto mais não seja, dá-nos a noção clara, daquilo que não queremos...
Por estranho que pareça, chego a esta provecta idade com um número restrito de amigos. Ao contrário do que pode fazer crer a banalização da palavra "amigo", hoje endeusada indiferentemente para definir toda a espécie de contacto humano, dos meros conhecidos aos magoados ex-amantes, a amizade é a mais exigente das relações humanas. Por outro lado, quando a amizade do amor se esgota, resta-nos a fidelidade dos amigos que supomos à prova de desgaste, porque não é feita do frágil tecido do desejo.
Que o comportamento natural do ser humano é estar aberto à vida e ao amor, já todos sabemos... só que entretanto, a estrutura genética faz-nos acreditar que não é assim, que devemos estar fechados e desconfiados. No entanto, uma parte da personalidade é composta por condutas aprendidas, sobre as quais é possível actuar e, por conseguinte, modificar. Mas também se temos de aprender a viver com as heranças do passado, por muito pesadas que sejam, os pesos do presente, podem sempre ser descartados ou minorados se nos esforçarmos nesse sentido.

sábado, 7 de maio de 2011

Fui Mesmo Ingénua ...

Mexem leve levemente

como quem se monta em mim

é o FMI certamente

mais nenhum me excita assim

será mesmo a ventania?

mas há pouco, há poucochinho,

o meu spread não bulia

na quieta melancolia

do meu Nib de cetim

tocas-me assim lentamente

com tão delicada leveza

mal se ouve mal se sente

lambes a minha pobreza

fui ver, a troika saía

do arroxeado prepúcio

há anos que a não via

e que saudades eu tinha!

olho-a na tua mão

pôs tudo da cor do linho

e a minha conta bancária

fica toda pegajosa

no ónus do teu cuzinho...

rijinhas, intumescidas,

as gémeas que te dão tudo

oscilam bem definidas

dizes tu: “sinto-as doridas,

está pra te vir o priudo”?

E uma infinita tristeza

daquela masturbação

entra em mim, fica em mim presa

da tortura sem tesão

domingo, 1 de maio de 2011

(In)verdades

Vivemos constantemente numa mentira, por indução. Ensinamos os nossos filhos que não se deve mentir, no entanto, assistimos todos os dias a relações sociais, afectivas, institucionais, políticas e empresariais, baseadas na mentira e na manipulação.

Diz-se o que é necessário e não o que é verdadeiro ... é que a verdade é um fardo muito pesado, por isso é que pouca gente o suporta! E mentir, exige um exercício de criatividade que só nos faz crescer.

Há dois tipos de mentira que parecem impossíveis de superar ... a do amor e da amizade.

Pois há quem tenha sobrevivido às duas, o que me leva a concluir que as (in)verdades podem ser um óptimo pretexto para a renovação. , retaliar parece-me uma péssima opção, até porque se traduz numa tarefa desgastante, exige uma enorme e cansativa capacidade ardilosa e o resultado será sempre uma decepção, principalmente para quem não aprecia desafios cujos resultados sejam apenas medíocres.

Se somos exigentes, seria de péssimo gosto, entrar em aventuras e malabarismos para os quais não temos o know how e a certificação suficientes para sair do caso com "distinção"

Por isso, o melhor mesmo é interiorizar que devemos criar o nosso bem estar e felicidade, através da realidade que nos é imposta pelos outros e então, chegamos facilmente à conclusão que não dependemos deles para sermos felizes.

A auto-estima permite-me concluir que a solidão auto-imposta tem duas vantagens inegáveis: primeiro, o direito de estar consigo mesmo; segundo, o direito de não estar com os outros, sendo que, esta última, até tem vantagens acrescidas, pelo perigo e promiscuidade que toda a convivência social traz consigo.