sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Balancete de 2010

Se recuarmos à nossa adolescência, recordamos emoções únicas que nos arrepiam a pele, embrulham-nos o estômago em papel vertebral, provocam-nos insónias e alteram-nos o humor.

Quando chegamos ao “turning point” da nossa vida, por muito que mantenhamos rejuvenescido o espírito, a verdade é que uma grande parte dessas emoções desaparecem, embora a persistência do nosso subconsciente teime em mantê-las no limbo do nosso quotidiano.

A vida obriga-nos a uma rotina, onde muitos detalhes acabam por ser mecanizados. Um beijo lânguido e profundo que, na adolescência era capaz de nos transportar para uma dimensão paralela, espelha no seio de uma relação a dois, uma serenidade que, muitas vezes, acabamos por confundir com marasmo, rotina ou falta de paixão.

O grande problema é que, à medida que envelhecemos, temos uma necessidade compulsiva de nos sentirmos vivos, pois o nosso ego torna-se ávido, precisando de ser saciado amiúde.

Paradoxalmente, é bom e mau, faz-nos felizes mas vazios, mantem-nos vivos e morremos aos poucos porque perdemos a capacidade de gerir emocionalmente a situação.

Na gestão de sentimentos somos péssimos profissionais e frequentemente, o balancete do deve/haver toma proporções de autêntica bancarrota.