sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Balancete de 2010

Se recuarmos à nossa adolescência, recordamos emoções únicas que nos arrepiam a pele, embrulham-nos o estômago em papel vertebral, provocam-nos insónias e alteram-nos o humor.

Quando chegamos ao “turning point” da nossa vida, por muito que mantenhamos rejuvenescido o espírito, a verdade é que uma grande parte dessas emoções desaparecem, embora a persistência do nosso subconsciente teime em mantê-las no limbo do nosso quotidiano.

A vida obriga-nos a uma rotina, onde muitos detalhes acabam por ser mecanizados. Um beijo lânguido e profundo que, na adolescência era capaz de nos transportar para uma dimensão paralela, espelha no seio de uma relação a dois, uma serenidade que, muitas vezes, acabamos por confundir com marasmo, rotina ou falta de paixão.

O grande problema é que, à medida que envelhecemos, temos uma necessidade compulsiva de nos sentirmos vivos, pois o nosso ego torna-se ávido, precisando de ser saciado amiúde.

Paradoxalmente, é bom e mau, faz-nos felizes mas vazios, mantem-nos vivos e morremos aos poucos porque perdemos a capacidade de gerir emocionalmente a situação.

Na gestão de sentimentos somos péssimos profissionais e frequentemente, o balancete do deve/haver toma proporções de autêntica bancarrota.



domingo, 12 de dezembro de 2010

The Love Equation


O amor romântico é como um traje que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o príncipio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.

Nunca amamos ninguém. Amamos, tão somente, a ideia que fazemos de alguém. É um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos. Isso é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa.

"Livro do desassossego" - Fernando Pessoa